Cacau orgânico ganha força no Pará e impulsiona restauração florestal no Médio Xingu. Estado é o maior produtor nacional do fruto.

Líder na produção de cacau no Brasil, o Pará avança na consolidação de uma cadeia produtiva mais sustentável, com iniciativas que conciliam conservação ambiental e geração de renda. Em Altamira, Sudoeste do estado, o projeto Xingu Sustentável: o cacau orgânico gerando renda e promovendo a restauração ecológica do Médio Xingu reforça esse movimento. A iniciativa é da Cooperativa Central de Produção Orgânica da Transamazônica e Xingu (CEPOTX) e conta com o apoio da Norte Energia, por meio do edital Xingu do Programa Floresta Viva – uma parceria entre o BNDES, Energisa e Fundo Vale, com gestão do Funbio.
O projeto, que terá duração de quatro anos, atua diretamente com quatro cooperativas ligadas à CEPOTX: a COPOTRAN, COOPOXIN, COOPCAO e COPOPS, abrangendo agricultores familiares dos municípios de Altamira, Brasil Novo, Vitória do Xingu, Uruará e Pacajá. Ao todo, cerca de 40 propriedades rurais serão diretamente beneficiadas, envolvendo mais de 100 pessoas entre agricultores, agricultoras, jovens e técnicos locais.
A proposta prevê a restauração ecológica de 150 hectares de áreas degradadas, por meio da implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) com cacau orgânico e essências florestais e frutíferas. As técnicas aplicadas variam de acordo com o nível de degradação das áreas, incluindo enriquecimento, nucleação e sistemas integrados de produção que aliam conservação ambiental e produtividade econômica.

A estruturação da cadeia do cacau também é prioridade. O projeto contempla a construção de uma agroindústria para processamento de manteiga de cacau, agregando valor ao produto e diversificando a renda dos cooperados. “O projeto não apenas cuida da floresta, mas também da renda e do futuro das famílias cooperadas. Estamos plantando biodiversidade e colhendo dignidade”, afirma o coordenador técnico do Xingu Sustentável, Marcos Eduardo da Silva Santos.
A iniciativa ainda oferece assistência técnica continuada, capacitações presenciais e diagnósticos específicos sobre gênero, raça e renda, com foco em uma atuação mais inclusiva e sustentável. “Este projeto fortalece a cultura cacaueira no estado e impulsiona a bioeconomia da regional, ao mesmo tempo em que promove a restauração ecológica e a inclusão de agricultores locais. É uma resposta concreta aos desafios de desenvolvimento sustentável na Amazônia. Na Norte Energia, temos a proteção da floresta como um dos pilares da nossa estratégia de sustentabilidade, com foco na Bacia do Xingu, rio onde está instalada a Usina Hidrelétrica Belo Monte. Por isso, apoiamos iniciativas como essa, que conservam a floresta, promovem o reflorestamento e ainda geram renda e oportunidades para a população local”, afirma o gerente de Sustentabilidade da Norte Energia, Ivan Bichara.
As atividades do projeto já estão em pleno andamento. Entre as ações já realizadas estão a contratação de equipe técnica, aquisição de insumos, diagnóstico das áreas, coleta de solo e mapeamento das propriedades beneficiadas. A próxima etapa inclui a implementação dos viveiros e o início das oficinas de capacitação em restauração florestal e manejo agroecológico.

“A gente sempre trabalhou com a terra, mas agora está aprendendo a cuidar melhor, com acompanhamento, análise de solo, assistência técnica. O projeto vai ajudar a fortalecer o cacau, reflorestar, melhorar a renda e ainda deixar um legado para os filhos. Tudo isso faz a gente ter uma visão diferente do que é produzir”, conta Marcos Roberto Souza Santos, agricultor cooperado na região da Transamazônica.
O Xingu Sustentável vai além do plantio de árvores: ele cultiva oportunidades. Ao integrar saberes locais, inovação agroecológica e responsabilidade ambiental, o projeto se consolida como um modelo inspirador de desenvolvimento sustentável para o Médio Xingu – onde a floresta e a produção caminham juntas, em equilíbrio.
SOBRE O FLORESTA VIVA
O Floresta Viva é uma iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que visa apoiar projetos de restauração ecológica com espécies nativas em todos os biomas brasileiros. O programa também atua no fortalecimento da estrutura técnica e de gestão da cadeia produtiva do setor de restauração e no apoio a sistemas agroflorestais de produção associados à restauração ecológica. Com a meta de investir R$ 693 milhões ao longo de sete anos, o Floresta Viva conta com recursos do Fundo Socioambiental do BNDES e de instituições apoiadoras, como Energisa, Fundo Vale e Norte Energia. Espera-se restaurar entre 25.000 e 35.000 hectares, contribuindo para a remoção de 8 a 11 milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera.
No contexto da Bacia Hidrográfica do Rio Xingu, o Floresta Viva lançou o Edital Xingu, com um investimento de R$ 26,7 milhões, para apoiar até nove projetos nos estados do Pará e Mato Grosso. O edital tem como objetivo promover a restauração ecológica e fortalecer as cadeias produtivas associadas à restauração em áreas como unidades de conservação, terras indígenas e propriedades rurais. A iniciativa é realizada em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), responsável pela gestão operacional e acompanhamento dos projetos selecionados.
Até o momento, além do Xingu Sustentável, outros três projetos foram selecionados, resultando no investimento de R$ 20,3 milhões em recursos não reembolsáveis: Na trilha da Floresta Viva: restauração ecológica socioprodutiva na Bacia do Xingu, da Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX); Sempre Vivas, Sempre Verdes: restauração ecológica e inclusão socioprodutiva na Resex Verde para Sempre, com execução do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB); e Resset Assurini, conduzido pela Fundação de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Sustentável Guamá.
Fotos: Divulgação
