Coloração amarelada dos rios na Amazônia pode indicar risco de malária, aponta estudo

 Coloração amarelada dos rios na Amazônia pode indicar risco de malária, aponta estudo

A malária é uma doença infecciosa causada por um parasita do gênero Plasmodium transmitido pela picada de mosquitos infectados do gênero Anopheles. Os principais sintomas são calafrios, febre alta e sudorese, aparecendo geralmente algumas semanas depois da picada. O frio se intensifica à tarde na pessoa infectada. Em Belém, capital do Estado, a doença foi erradicada, mas há algumas ocorrências raras de malária na cidade, em geral, em pacientes que fizeram viagens pelo interior recentemente.

A malária é endêmica em regiões tropicais e subtropicais devido às chuvas abundantes, temperaturas elevadas e grande quantidade de água parada. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 247 milhões de casos de malária foram registrados em 2021 em 84 países endêmicos. No Brasil, a doença está concentrada na região amazônica e ocorrem mais de 150 mil casos por ano.

A malária é uma doença infecciosa causada por protozoários do gênero Plasmodium transmitidos pela picada da fêmea infectada do mosquito do gênero Anopheles, também conhecido como mosquito-prego.

Um estudo realizado pela Fiocruz Amazônia, em conjunto com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), e publicado na revista Malaria Journal, investigou a relação entre as cores dos rios na Amazônia e a incidência de malária. Os resultados mostraram que quanto mais escuras e pretas forem as águas, maior é a incidência da doença.

COR DAS ÁGUAS

O estudo usou uma abordagem inédita para avaliar a relação entre a coloração dos rios amazônicos e a incidência da malária. A pesquisa analisou os dados de incidência da doença entre os anos 2003 e 2019 em 50 dos 62 municípios do Amazonas, além de imagens de satélite do Google Earth, e de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH), do Observatório do Ambiente, Pesquisa em Hidrologia e Geodinâmica da bacia Amazônica e do Sistema de Vigilância Epidemiológica de Malária (Sivep-Malária).

Segundo Fernanda Fonseca, autora principal da pesquisa, este estudo propôs realizar uma abordagem baseada em hipóteses, correlacionando as cores dos rios e a incidência da doença, a fim de determinar se as características de cada tipo de água influenciam na distribuição geográfica da doença.

Os resultados mostraram que os rios de coloração preta apresentam maior incidência de malária, se comparados com os rios de águas brancas (que possuem cores turvas e barrentas) e claras. Por isso, os povoados que ficam próximos aos rios escuros têm mais casos da doença. Acontece que os rios escuros carregam menos sedimentos e são mais ácidos, o que pode favorecer a proliferação do mosquito Anopheles darlingi, transmissor da doença.

TIPOS DE CORES

Esses sedimentos geralmente são areia, partículas de argila e lodo, que modificam as propriedades físico-químicas das águas e, principalmente, a sua cor. As cores são classificadas como águas brancas, pretas ou claras. Os rios de águas brancas transportam grande quantidade de sedimentos em suspensão e possuem pH próximo do neutro (perto de 7), são eles: rios Madeira, Purus, Juruá e Solimões.

Já os rios de águas pretas são assim devido às substâncias dissolvidas neles. Possuem pH ácido (menor que 7), carregam muita matéria orgânica e apresentam baixa concentração de sedimentos suspensos. O maior e mais conhecido é o Rio Negro. Por último, os rios de águas claras, como por exemplo o rio Tapajós, apresentam coloração esverdeada ou são transparentes. Estes carregam uma pequena quantidade de sedimentos dissolvidos, possuem baixo nível de matéria orgânica dissolvida e pH quase neutro (perto de 7).

 

RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Para Fonseca, a situação epidemiológica na Amazônia continua preocupante, e desafios como obter dados confiáveis sobre a incidência e distribuição da doença, bem como estratégias adaptadas localmente para melhorar o diagnóstico precoce ou o acesso oportuno ao tratamento, continuam sendo desafios importantes.

A expectativa é de que estes resultados contribuam para o controle e a eliminação da doença, ampliando o conhecimento sobre a identificação de áreas suscetíveis ou de maior risco de transmissão. “Nossos resultados podem ser extrapolados para regiões com características sanitárias e hidrológicas semelhantes às observadas na Amazônia brasileira”, afirmou Fonseca.

Além disso, para Jesem Orellana, epidemiologista e coautor da pesquisa, o estudo é pioneiro no assunto, já que explora um tema pouco compreendido e combina conhecimentos das áreas de hidrologia, geoprocessamento e sensoriamento remoto, estatística e matemática, tudo aplicado à saúde e epidemiologia. “Trabalho interdisciplinar crucial à consolidação de redes de cooperação em pesquisa e para o entendimento mais ampliado de problemas sanitários desafiadores, como é o caso da eliminação da malária”, afirmou ele.

Fotos: Agência Brasil

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