Com a maioria dos insumos atualmente empregados na indústria cosmética consistindo em elementos sintéticos, a utilização de componentes naturais no desenvolvimento de cosméticos desempenha um papel crucial não apenas na pauta ambiental, mas também na promoção da saúde e bem-estar dos consumidores. Exatamente em função dessa premissa, pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) trabalham no processo de desenvolvimento de um produto cosmético que utiliza elementos da Amazônia como matéria-prima, como a castanha-do-pará, o óleo de pau-rosa e extratos do guaraná. As informações são da Revista Cenarium.
Categorizando-se como protetor solar, o produto consiste em uma emulsão fitocosmética, cujos princípios ativos são óleos, extratos ou mesmo partes de vegetais. Esses cosméticos têm como apelo e objetivo fornecer produtos que não agridam o organismo humano.
O projeto, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), é desenvolvido pela professora doutora em Engenharia Química Patrícia Melchionna e pelo mestrando Juliano Camurça, que possui graduação na mesma área e desenvolve o produto como parte da dissertação.
O incentivo surgiu a partir do edital “Universal Amazonas”, lançado pela Fapeam, em 2019, com objetivo de apoiar projetos que incentivassem empresas do interior do Estado. Foi firmada, então, uma parceria com a D´Amazônia Origens, empresa localizada no município de Maués (a 276 quilômetros de Manaus), que cede as sementes de guaraná e o óleo de castanha-do-pará para a pesquisa.
Segundo Juliano, o principal componente da emulsão vegana seria o extrato de guaraná que, de acordo com os estudos, possui propriedades de fotoproteção (proteção à luz) e antioxidantes, que ajudam a combater os radicais livres que prejudicam a pele e causam envelhecimento.
“A ação dos radicais livres acontece na segunda camada da pele. Com o uso da nanotecnologia, nós conseguimos direcionar esses ativos até essa camada, para que eles sejam liberados de forma prolongada e atuem contra essas moléculas”, afirmou o pesquisador.
NANOTECNOLOGIA
O projeto utiliza a tecnologia do nanoencapsulamento, que consiste em envolver e proteger ativos em cápsulas de tamanho nanométrico, desenvolvidos de diversos materiais, mas principalmente lipídios e polímeros naturais ou sintéticos.
A iniciativa faz parte do Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNANO), rede formada por um conjunto de laboratórios direcionados à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação (PD&I) em nanociências e nanotecnologias. O método é aplicado no projeto em parceria com o Instituto Federal do Amazonas (Ifam).
“Agregar a nanotecnologia facilita o processo de controlar a liberação do ativo no momento do uso para potencializar a ação do produto, e manter a estabilidade e durabilidade do extrato na emulsão”, afirmou Juliano.
PROJETO INICIAL
O projeto é uma continuação de outra proposta desenvolvida anteriormente pela professora Patrícia, que seguia a mesma linha do uso destas espécies para a obtenção de bioprodutos que apresentam alto valor de mercado, beneficiando, consequentemente, o setor produtivo do município de Maués e do Estado do Amazonas.
“Espécies vegetais amazônicas apresentam propriedades biológicas de grande interesse para a indústria de cosméticos, como o guaraná, que cujo extrato possui atividade antioxidante, e o pau-rosa, que fornece um óleo essencial rico em linalol, com conhecida atividade antimicrobiana”, explicou a professora.
Os pesquisadores apontam a pretensão de inserir a criação no mercado assim que possível, e reforçam o objetivo da pesquisa em formular um produto eficiente e sustentável, que atenda às necessidades do público-alvo, bem como as demandas ambientais.
Fotos: Reprodução e Luiz André/CENARIUM
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