Sequenciamento do genoma do cupuaçu: o que isso poderá contribuir com os produtores dessa fruta?
POR RAFAEL MOYSÉS ALVES
*Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental
Recentemente foi[1] decifrado o genoma do cupuaçuzeiro. Essa pesquisa, genuinamente brasileira, foi liderada pelo professor Alessandro Varani da Unesp de Jaboticabal – SP, e contou com a participação[2] de vários órgãos como a UFPA[3] (Professor Vinícius Abreu), EMBRAPA[4] (pesquisador Rafael Moysés Alves), CENA – USP (Professor Antônio Figueira) e muitos outros.
Fazer o sequenciamento do genoma de uma espécie significa decifrar os códigos que estão localizados no DNA de cada célula. A sequência desses códigos são chamadas de genes. Os genes são responsáveis por cada característica do cupuaçuzeiro. Por exemplo: existem genes responsáveis pela forma do fruto (redondo ou comprido), outros pela resistência à vassoura[5] (resistente ou susceptível[6] ) e assim por diante.
Como os produtores de cupuaçu poderão ser beneficiados com os resultados dessa pesquisa?
Sabendo a função de cada sequência que constitui um gene, bem como, o local onde ela se encontra, os pesquisadores que trabalharem com o melhoramento do cupuaçuzeiro, poderão utilizar essa informação, por exemplo, para identificar, precocemente, se uma plântula possui resistência ou não a vassoura-de-bruxa. Caso não apresente no DNA a marca respectiva, ela já poderá ser descartada no viveiro, com cerca de 30 dias de idade. Se não dispuséssemos dessa informação, haveria necessidade de levar a planta para o campo, esperar que ocorresse contaminação natural pelo fungo e, após alguns anos, caso a planta não apresentasse sintomas da doença, teríamos uma suspeita que se tratava de indivíduo resistente.
Esse tipo de avaliação, demanda gastos significativamente elevados de recursos humanos, financeiros e logísticos, pois cada planta que é testada ocupa uma área no campo de 25 metros quadrados.
Outra vantagem de conhecer o genoma decorre da possibilidade de transferir genes de interesse de uma planta para outra, através da técnica de engenharia genética. Assim, novas variedades de cupuaçuzeiro mais resistentes as principais pragas e doenças, resiliêntes as mudanças climáticas e com polpa mais saborosa, por exemplo, poderão ser produzidas com mais celeridade e a custos mais baixos.Portanto, a decifração do genoma do cupuaçuzeiro, e as novas cultivares que serão produzidas com base nesse conhecimento, abrirá uma nova perspectiva para a cultura, devendo tornar a atividade mais segura, sustentável e rentável para os produtores.