Costa do Marfim enfrenta a crise do cacau. Brasil já é autosuficiente no chamado ouro marrom e o Pará se destaca.

 Costa do Marfim enfrenta a crise do cacau. Brasil já é autosuficiente no chamado ouro marrom e o Pará se destaca.

Maior produtor mundial de cacau, responsável por ao menos 40% da produção no planeta, a Costa do Marfim está afundando em uma crise que está comprometendo sua economia e deixando preocupados milhões de agricultores. A crise decorre de uma combinação de fatores que provoca queda na produção cacaueira nacional. No Brasil, Pará e Bahia são os maiores produtores nacionais de cacau e já conseguem suprir a demanda do mercado interno. O Pará superou a Bahia no volume de produção. No ano passado, os dois estados, juntos, colheram 290 mil toneladas de cacau.
Neste ano, a previsão é de uma colheita acima de 150 mil toneladas de cacau pelos produtores paraenses.
A mudança climática é apontada como um dos maiores vilões nesta crise e nisso estão imbuidas a alteração nos padrões de chuva, temperatura e umidade nas regiões produtoras de cacau. Isso tudo tem provocado uma devastação nas regiões produtoras de cacau. Os cacaueiros, que prosperam em climas úmidos e quentes com temperatura média de 25°C e precipitação anual de 1500-2000 mm, agora enfrentam secas severas, temperaturas elevadas e umidade reduzida. Este estresse ambiental não só prejudica a saúde das plantas, mas também compromete a floração e frutificação.
O Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT) fez um estudo que prevê que até 2050, a área adequada para o cultivo de cacau na Costa do Marfim pode ser reduzida em 28%, e em 89% até 2080.

OUTRO FATOR
O desmatamento é outro fator crucial que agrava a crise do cacau na Costa do Marfim. A perda de cobertura florestal não apenas degrada a qualidade do solo, mas também facilita a proliferação de pragas que atacam os cacaueiros. Embora as razões para o desmatamento variem, o impacto negativo sobre a produtividade do cacau é evidente. Com a implementação de regulamentos de desmatamento mais rígidos pela União Europeia, espera-se que haja uma mudança na dinâmica futura da produção de cacau.
AMEAÇA BIOLÓGICA
As pragas e doenças são responsáveis por uma redução significativa na produção de cacau. Entre as pragas mais devastadoras estão a broca-da-vagem, o mirídeo do cacau e o vírus da parte aérea do cacau inchado (CSSV). A broca-da-vagem, por exemplo, põe ovos dentro das vagens de cacau, e suas larvas consomem os grãos, resultando em perdas substanciais. De acordo com a World Cocoa Foundation (WCF), esses problemas podem diminuir a produção em até 40%.

DESGASTE COM O TEMPO
Há de se considerar, ainda, o envelhecimento das árvores de cacau como fator importante. Com uma vida útil de cerca de 25-30 anos e um pico de produção por volta dos 10 anos, muitas árvores na Costa do Marfim estão bem além de sua idade produtiva ideal. A falta de recursos, conhecimento e incentivos para replantar ou renovar as plantações resultou em uma média de idade das árvores superior a 20 anos, levando a uma produtividade abaixo do potencial. O WCF estima que isso pode reduzir a produção em até 25%.
A instabilidade política, com guerras civis e episódios de violência desde o final dos anos 1990, também tem prejudicado o setor cacaueiro. Conflitos destroem infraestruturas, dificultam o acesso a insumos e mercados, e aumentam a insegurança entre os agricultores. Além disso, a instabilidade impede a implementação de políticas eficazes de apoio ao setor, incluindo controle de qualidade, certificação, pesquisa e desenvolvimento. Segundo o Banco Mundial, a instabilidade política pode reduzir a produção de cacau em até 20%

INVESTIMENTOS
A Costa do Marfim precisa de uma abordagem multifacetada para encarar esses desafios com investimentos em tecnologias agrícolas sustentáveis, programas de reflorestamento, combate a pragas e doenças, e apoio financeiro e educacional aos agricultores. Tais medidas são cruciais. A estabilização política e a criação de políticas agrícolas sólidas também são essenciais para restaurar a produtividade e garantir a sustentabilidade a longo prazo.
Destarte, a luta pelo cacau na Costa do Marfim não é apenas uma questão econômica, mas um esforço para preservar a identidade cultural e o futuro de milhões de agricultores que dependem desta colheita. O futuro do ouro marrom depende de ações coordenadas e sustentáveis para enfrentar os desafios ambientais, biológicos e socioeconômicos que ameaçam esta indústria vital.

Imagens: Reprodução

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