A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, em Belém, vem trabalhando com estudos e experimentos do setor de melipolicultura. No local, são feitos trabalhos com abelhas nativas da Amazônia (melíponas uruçu e suas variedades) e as nativas da Europa e África (Apis Mellifera), que são exóticas. Teoricamente, elas são iguais, porém, a abelha nativa desta região do planeta não tem ferrão, já as oriundas da África e Europa, possue ferrão. Também elas se diferenciam quando se trata da cadeia produtiva do mel e também da polinização agrícola.
Para falar desse trabalho, ouvimos alguns dos especialistas da Embrapa que vêm trabalhando nesses experimentos, caso dos pesquisadores Márcia Mota Maués, Daniel Pereira e Anderson Schwamke, que mantém um experimento com várias espécies nativas de abelha no meliponário Iratama, nas dependências do órgão
As abelhas nativas da região amazônia não têm ferrão. Vivendo em grupos ou sozinhas, elas são os principais polinizadores do açaí (Euterpe oleracea), segundo atesta estudo da Embrapa, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). Essa espécie de abelha representa mais de 90% do trabalho de polinização nas flores da palmeira e são mais eficientes no transporte do pólen, impactando diretamente a cadeia produtiva do açaí.
Barcarena e Abaetetuba foram os focos do estudo que brangeu oito áreas, onde foram analisadas quatro áreas manejadas de açaí de várzea e outras quatro de plantios em terra firme. Assim, ali, foram coletados insetos de 74 espécies diferentes que visitaram as flores da palmeira.
A agrônoma da UFRA Leilane Bezerra conta que ao estudar o número de grãos de pólen de açaí transportados pelos insetos, descobriu que as abelhas nativas são o grupo de polinizadores mais eficaz.
“Descobrimos que mais de 70 espécies de insetos, incluindo abelhas, moscas, vespas, formigas e besouros, transportam pólen de açaí. Mas as abelhas nativas, incluindo espécies sem ferrão (Meliponinae) e solitárias (como as da família Halictidae), carregam pelo menos oito vezes mais pólen do que os outros insetos e representam seis em cada dez visitas de insetos às flores de açaí”, revela.
AS ESPÉCIES
A bióloga Márcia Mota Maués, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental (PA), coautora do trabalho, conversou com a reportagem do AMAZÔNIA MAIS TV. Ela explica que, até então, cientistas pouco sabiam do percentual das contribuições dos diferentes grupos de insetos à polinização do açaí, conhecimento este, fundamental para embasar recomendações aos agricultores sobre a polinização e manejo de polinizadores dessa palmeira tão importante para a economia do Pará e do Brasil. No mundo há cerca de 20 mil diferentes espécies de abelhas, dez por cento delas no Brasil, a maioria, abelhas solitárias, que não formam colônias, embora perto uma das outras. Elas não produzem mel, no entanto, são igualmente importantes, porque são os principais polinizadores de todas as plantas que existem no mundo, nativas ou agrícolas. Assim, 80% dos polinizadores são abelhas.
“A polinização é um processo essencial para a produção de sementes e frutos em três quartos dos cultivos globais. Mas para muitos cultivos tropicais como o açaí, o conhecimento sobre polinização ainda era limitado, dificultando o desenvolvimento de práticas agrícolas amigáveis para os polinizadores’”, comenta a cientista.
A pesquisa analisou todos os visitantes da palmeira durante a fase feminina, cujo período é de quatro a oito dias, no período de maior floração da palmeira, entre março e junho. Isso, segundo Maués, serviu para facilitar a identificação dos potenciais polinizadores, “pois apenas os insetos que transferem pólen para as flores femininas podem polinizar”, detalha.
Ela explica que o açaí é uma espécie que depende de polinização cruzada entre flores masculinas e femininas em diferentes palmeiras. Ao buscarem alimento, os insetos carregam o pólen das flores masculinas para as femininas e é nesta última que acontece a polinização. “Todos são insetos visitantes, mas uns são coletores e outros, polinizadores. Nosso estudo focou no segundo grupo”, complementa.
O primeiro resultado encontrado pelos cientistas foi que mais da metade (51%) dos 596 insetos visitantes coletados na palmeira são abelhas nativas. As abelhas sem ferrão representam 38%; as moscas são 16%; outras abelhas (solitárias e em sua maioria nativas) somam 13%; vespas, 12%; formigas, 8%; e 6% são besouros.
CASA DA ABELHA
O pesquisador Anderson Schwamke explica que existe uma coleção de abelhas nativas registrada nos órgãos que cuidam dessa parte de coleções e do patrimônio genético. Assim, há uma variedade de espécies nativas que compõem essa coleção que também são representativas das espécies existentes na região. Essa coleção é também destinada pela Embrapa para a educação ambiental, pesquisa, orientação de alunos da graduação e da pós-graduação. Esse, explica, é o principal objetivo do trabalho com o meliponário e também do apiário, onde estão as abelhas com ferrão.
Segundo ainda Anderson, o prejeto do meliponário Iratama é manter essa coleção das espécies de abelhas melíponas (sem ferrão) para fins científicos, acadêmicos e também para a educação ambiental. O meliponário da Embrapa mantém uma diversidade de espécie nativa da Amazônia e do Pará mais especificamente, coleção esta registrada como patrimônio genético do órgão. A Embrapa também leva essas caixas com abelhas para orientação de novos produtores e para experimentos fora da área do órgão no bairro do Curió-Utinga, em Belém.
HOBBY
O melipolicultor Yury Anderson Souza Pereira, 55 anos, que trabalha com abelhas sem ferrão desde 2016, e que se considera um empresário da melipolicultura, explica que tem cerca de 600 caixas de abelhas em cinco comunidades do município de Tracuateua, na Zona Bragantina, nordeste do Pará. Ele admira tanto esse trabalho que, por hobby, cria esse tipo de abelha em sua casa, no bairro do Guamá. O empresário afirma que criar abelhas na cidade não é uma iniciativa sua, pois vários outros parceiros têm seus meliponários particulares, em casa, não apenas em Belém, como em várias outras cidades do Pará e da região.
Yury trabalha em parceria com várias comunidades carentes. Seus parceiros recebem um porcentual sobre essa produção, fruto do manejo das abelhas nesses locais. Tem ainda, a parceria com os pequenos produtores. Ali, sua parceria consiste em comprar o mel produzido por esse pessoal.
Desde 2016 no ramo, Yuri conta que já conseguiu tirar até uma tonelada de produção de mel, no entanto, ano passado, com a estiagem no Estado, a produção caiu para 700 quilos, o que, na estimativa geral, o leva a uma produção anual em torno de 700 quilos de mel de alta qualidade e de grande valor agregado quando se trata do mercado exportador para Estados Unidos e Europa.
Fotos: Roberto Barbosa/Ronabar
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