Em um ano de desaceleração da agropecuária, o Pará segue colhendo bons resultados no campo. Diferentemente da média do país, o valor bruto da produção agropecuária no estado deve ter um crescimento significativo de 3,3% em termos reais neste ano, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em todo o Brasil, a variação deve ser de apenas 0,6%.
O desempenho virá da alta de 5,6% esperada para as lavouras e da estabilidade no caso da pecuária, que deve praticamente repetir os números de 2023. A preços de janeiro deste ano, o campo deve gerar uma receita bruta próxima de R$ 29,5 bilhões no estado (2,5% do país), contra R$ 28,5 bilhões no ano passado.
O aumento do valor bruto das lavouras paraenses, de R$ 16,9 bilhões para R$ 17,8 bilhões, virá basicamente do milho, num salto esperado de 34%. A pecuária deverá trazer receitas de R$ 11,6 bilhões, dos quais 88% originados na criação de bovinos, algo em torno de R$ 10,3 bilhões.
A agropecuária, anota Marcel Botelho, presidente da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), tem um papel cada vez mais importante na economia do Pará. O setor tem contribuído, em média, com cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado nos últimos anos, acima da participação em torno de 7,7% na média brasileira.
“Em volume, no período de 2011 a 2021, a agropecuária se destaca com o maior crescimento (31,8%), bem acima do PIB, que foi de 13,5%, e dos serviços e da indústria, com 19,8% e 7% respectivamente”, acrescenta Botelho.
SOJA
Líder na produção de açaí, cacau e dendê, além de um dos principais produtores de madeira, o Pará registra mais recentemente avanços no cultivo da soja, que passou a responder por um quarto do valor bruto produzido pelo agronegócio local, e na pecuária.
O salto na produção, aponta Giovanni Queiroz, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Pará, ajudou a sustentar as exportações do agronegócio paraense, que quase dobraram em relação às vendas externas totais do estado entre 2013 e o ano passado.
No período, enquanto as exportações totais do Pará registraram um avanço de 41,5%, os embarques do agronegócio aumentaram 82,4%, para US$ 3,39 bilhões.
O Pará assumiu em 2022 o segundo lugar na criação de bovinos, com um plantel de 24,8 milhões de cabeças — 10,6% do rebanho brasileiro — atrás apenas do Mato Grosso, segundo o IBGE. Em uma década, o rebanho estadual cresceu 33,2%, frente a 10,9% em todo o país.
Adicionalmente, quatro em cada dez búfalos criados no Brasil estão no Pará, num plantel de 694,67 mil animais, concentrados principalmente na Ilha de Marajó, que abriga 72% desse total.
Segundo Queiroz, o Pará respondeu por 8,3% do volume de carnes produzido em todo o país entre janeiro e setembro do ano passado. Foram 540 mil toneladas de carne bovina e 90,5 mil toneladas de carne de frango.
A melhoria genética do rebanho e o aprimoramento das práticas de manejo ao longo dos anos, com investimento em novas técnicas, contribuíram para o avanço, avalia Queiroz, abrindo espaço para novos investimentos em plantas frigoríficas.
A Friboi, do grupo JBS, opera quatro unidades de processamento de carnes no estado, localizadas em Marabá, Redenção, Tucumã e Santana do Araguaia, empregando três mil pessoas de forma direta.
“O Pará tem um potencial grande para a pecuária. Hoje, considerando toda a cadeia produtiva, a JBS contribui para a geração de 174 mil empregos no estado ou 4,2% do total de ocupados regionalmente. Isso movimenta R$ 5,44 bilhões na economia paraense, o que equivale a 1,22% do PIB estadual”, contabiliza Renato Costa, presidente da Friboi, uma das unidades da JBS Brasil.
RASTREAMENTO DE BOVINOS
Costa acrescenta que a JBS toca uma indústria de processamento de couros em Marabá e um centro de distribuição de sua marca Seara em Marituba, na Região Metropolitana de Belém.
“A intenção é que o Pará se torne referência para todos os estados do país” diz.
Durante a COP28, realizada em Dubai, acrescenta Queiroz, o Pará lançou o Sistema de Rastreabilidade Bovina, com o objetivo de monitorar todo o gado do estado individualmente até 2026, uma demanda crescente dos mercados para coibir o avanço da pecuária sobre a floresta. Conciliar a atividade com a preservação ambiental é um desafio.
“O objetivo é controlar o trânsito de cada animal em território paraense, desde o bezerro até o gado adulto, identificando os produtores pecuários que desmatam para aumentar a produção e, assim, controlar e punir os responsáveis pelo desmatamento ilegal”, diz o secretário.
Segundo Liège Correia, diretora de Sustentabilidade da JBS Brasil, até o fim de 2026 deverão ser realizados investimentos de R$ 43,3 milhões não apenas em rastreabilidade, mas também em apoio a pequenos produtores para regularização ambiental, adoção de práticas regenerativas e sistemas integrados.
A JBS aportará R$ 5 milhões no programa, além de R$ 3 milhões para custeio e expansão dos escritórios verdes na região, parte da plataforma do grupo para promover regularização de passivos ambientais e produção eficiente e sustentável nas fazendas.
O Fundo JBS pela Amazônia, acrescenta Correia, que igualmente financia ações com foco na agricultura de baixo carbono, prevê aportes de R$ 25 milhões até 2026, beneficiando 1,5 mil famílias em 75 mil hectares de quatro municípios ao longo da Transamazônica.
Foto: Divulgação/O Globo
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